COMO SEGUIR EM FRENTE DEPOIS
DO FIM DE UM RELACIONAMENTO ABUSIVO?
Por Aline Bastos - Psicóloga Cognitivo Comportamental
Por que sentimos vergonha e culpa?
Nos relacionamentos tóxicos é comum que as pessoas sintam um misto de CULPA e VERGONHA. Um ambiente permeado com críticas destrutivas, cobranças excessivas e humilhações constantes é muito propício para eliciar em nós esses sentimentos. Além da vergonha e da culpa, pensamentos negativos sobre si mesmo, sobre o futuro e sobre o mundo – que resultam em afastamento dos amigos e familiares – causam profundo estrago na autoestima. A pessoa se sente menosprezada, deprimida, com a sensação que fez tudo errado, que não consegue manter a paz em uma relação e que ninguém mais vai amá-la. Ela começa a se perceber menor que o outro, menos merecedora, pouco atraente e perde a vontade e/ou a força para mudar. O jeito de enxergar as outras pessoas também muda, vêm os sentimentos de desconfiança e o medo de desenvolver novos relacionamentos. Submetida a comentários como: “você é louca(o)”, “...por isso ninguém quer você”, “deixa de drama”, “você não consegue fazer nada direito”, “você é acomodada(o)”, “você é leviana(o)”, “ninguém gosta de você”, “você não sabe valorizar o que tem comigo”, a pessoa se vê perdida, dependente, desestabilizada emocionalmente e acreditando que não existe outra realidade possível.
Nos relacionamentos tóxicos a ideia é fazer com que a pessoa se sinta inferior e dependente. Em praticamente todos os casos o abuso deixa marcas profundas, pois ele vai minando os recursos pessoais e a capacidade de reação, tornando um algoz, mesmo quando a distância física já foi estabelecida.
Após passar por um relacionamento abusivo é comum ter receio de falar com outras pessoas, vem o medo do que os outros vão pensar, de ser julgado e criticado pelo acontecido. A exposição gera um enorme desconforto psicológico, é pesado lidar com os julgamentos externos e internos! O sentimento de culpa é quase permanente. Culpa por ter escolhido aquela pessoa, vergonha por ter permanecido ao seu lado...
Se recuperando de um relacionamento abusivo
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Saiba que você não tem culpa e o processo de contar as experiências vivenciadas é muito importante para lidar com elas. Perceba que O ERRO NÃO É DE QUEM CONFIA
e sim daquele(a) que mente e manipula. Sofremos as consequências pelas nossas escolhas, mas não devemos nos culpabilizar pela ação do outro.
Entenda o que viveu e reconheça os sinais para não cair em novas armadilhas. Acredite: O OUTRO NÃO MUDA PORQUE A GENTE QUER.
Traga sua verdadeira identidade à tona, tenha uma boa relação consigo mesmo respeitando os seus limites. Estabeleça limites saudáveis.
Gerencie a autocrítica! Mensure as suas reais qualidades e defeitos, erros e acertos. O caminho é acalmar a mente e olhar para você de uma forma mais realista, mas também amorosa.
Reinterprete a sua condição de vítima, de modo que ela não ocupe todo conceito que tem de si mesmo. Se identificar como vítima tira seu poder e enfraquece a compreensão de si. Se reconheça como pessoa resiliente, que sobreviveu a um evento traumático.
Se concentre no momento presente e tome as rédeas da sua vida. Não se apresse! Compreenda que toda cura leva tempo, é um processo e portanto, uma boa opção é seguir seu próprio ritmo, reestruturar a sua rotina, ouvir a si mesmo(a) e aceitar as suas emoções.
Inicie a reconstrução de uma imagem mais valiosa de si mesmo(a), conheça o valor do autocuidado, pratique o auto perdão.
MANTENHA O FOCO EM VOCÊ! Faça auto-observação, defina seus objetivos em um relacionamento, alinhe pensar, sentir e fazer e analise se seu comportamento está coerente com seus propósitos. Se não tiver, recalcule! O objetivo é libertar-se a cada dia das amarras condicionantes de seu estado emocional, reconstruir novos laços e retomar o curso natural da vida.
Lembre-se: A mudança não é fácil, nem simples. Mas, É POSSÍVEl!

Aline Bastos Aguiar é Psicóloga com formação em Terapia Cognitiva Comportamental e atua no apoio emocional nos relacionamentos abusivos. Especialista em Avaliação e Diagnóstico Psicológico.