SOBRE A DEPENDÊNCIA EMOCIONAL
Por Aline Bastos - Psicóloga Cognitivo Comportamental
A dependência emocional
é um tema muito frequente em pessoas que passaram por relacionamentos narcisistas, sendo assim recorrente na prática clínica. De fato, a dependência emocional é um dos principais fatores que fazem as pessoas viverem dentro de relacionamentos abusivos, muitas vezes sem saberem que estão vivendo em um.
A dependência emocional é quando nós permitimos que os sentimentos do outro sejam maiores e mais importante que o nosso amor-próprio. Ela se torna um labirinto, uma prisão da qual é difícil sair porque frequentemente é confundida com amor. Por algum tempo, às vezes por muito tempo, a pessoa suporta qualquer comportamento e suas consequências sem perceber que está renunciando a sua própria vida e os seus sonhos, investindo de forma desproporcional nesse relacionamento.
O amor se baseia em uma escolha livre, na cumplicidade e no respeito, e não em uma necessidade gerada pelo controle e manipulação, que são próprios de relacionamentos abusivos. Na psicologia, entendemos o narcisista como alguém que se coloca acima das pessoas, de todas as formas possíveis, não apenas ampliando seu autoconceito, como também desmerecendo os outros. Não há nada errado em gostar de si mesmo, ao contrário: é muito importante que saibamos nos amar, nos valorizar e trabalhar para melhorar a cada dia. Porém, o narcisista não se limita a isto; para que consiga sentir-se bem lança mão de ferramentas de destruição da autoestima alheia, ou seja, como ele(a) não consegue sentir-se bem (embora pareça que está bem), não permite que ninguém sinta-se melhor que ele. Narcisistas visam principalmente inocentes e desavisados, aqueles(as) que estão passando por momentos difíceis, estão lutando com a autoestima, ou têm outras vulnerabilidades, e chegam ao seu “resgate” como um cavaleiro de armadura brilhante (ou uma tentadora sedutora).
No momento em que se aceita o “resgate”, é formada uma relação dependente, com uma disparidade de poder entre o “socorrista” e o “resgatado(a)”. O abuso psicológico ou emocional é instalado através de insultos, comentários depreciativos, atitudes ambíguas, momentos de desprezo e isolamento. Afastada(o) dos familiares e amigos começa a se questionar sobre a sua habilidade de conviver com os demais e de tomar decisões. Vivências traumáticas que instalaram sentimentos de inferiorização é um cenário propício a dependências emocional, que encontra reforço na percepção de não ser capaz de lidar com a própria vida. Como se suas ações estivessem nas mãos do outro, alimenta-se uma necessidade constante do auxílio daquele(a) que passou a considerar como mais inteligente e confiável para fazer as suas escolhas, pois o medo de errar é bastante latente. Citando Norwood 11 93752-6149: como reflexo de sua desvalorização e sofrimento pessoal, provavelmente internaliza a ideia de não ser merecedor(a) de algo realmente bom, aceita o pouco que lhe é oferecido e se esforça ao máximo para superar falhas ou defeitos que acredita ter. Na condição de dependente se perde a noção do seu real valor como pessoa, e passa a organizar seu comportamento de acordo com a ótica do abusador/narcisista. É comum que se sinta responsável pela felicidade e assumam a missão de promover a mudança (cura) de seus parceiros narcisistas. As consequências da dependência emocional podem ser avassaladoras desenvolvendo graves sintomas como transtornos alimentares, transtornos de ansiedade, estresse, insônia, abuso de substâncias e depressão.
Sobreviver a um relacionamento narcisista e retomar o curso da própria vida passa por reconhecer a dependência emocional e as armadilhas cognitivas que nos mantém presos ao sofrimento, como o medo, insegurança e a desconfiança (quando todos que se aproximam nos parecem narcisistas). Abrace o processo de luto e não confunda a dor do sofrimento como indicativo de que você cometeu um erro e merece ser punido(a).
A perda dói, e nos relacionamentos narcisistas implica em perceber que a história de amor não foi real, que se viveu algo estranho e ilusório, que nada sobrou a não ser a sensação de ter sido esvaziado(a).
Desconstruir o trauma implica em reconhecer a dor. Muitas vezes as opções mais saudáveis são difíceis e dolorosas, assim não corra da dor, caminhe nela e ela acabará por passar. Fortalecer a autoestima torna-se primordial e a partir daí, ou junto a isso se apropriar da assertividade, adquirir autonomia e mudar padrões de escolha e de respostas, criando conexões mais significativas. Aprenda a olhar para os próprios sentimentos descobrindo de onde eles vêm. Identifique seus recursos internos e estabeleça uma nova rotina, com novas prioridades, saindo do círculo vicioso. Pratique Mindfulness
(atenção plena) – que é a habilidade de estar ciente de seu próprio corpo, mente, sentimentos e pensamentos para criar um estado de paz e tranquilidade.
Observar-se sem crítica, ter compaixão por si mesmo e praticar o auto perdão também contribuem com o processo de ressignificação e reconstrução de novos padrões de comportamento com escolhas funcionais.

Aline Bastos Aguiar é Psicóloga com formação em Terapia Cognitiva Comportamental e atua no apoio emocional nos relacionamentos abusivos.
Especialista em Avaliação e Diagnóstico Psicológico.